sexta-feira, 7 de setembro de 2012

O MUAY THAI NA TAILANDIA

Os rituais

Para o lutador Thai, o Muay Thai é ao mesmo tempo um modo de vida, uma profissão e um encontro espiritual. Este último expressa-se nos rituais que antecedem o combate, sendo que estes têm origens tão antigas quanto o povo Thai. A religião do povo tailandês vais mais além da devoção budista que se pode observar na prática quotidiana dos templos. Muito antes do budismo se instaurar nas terras de Siam, o povo Thai era "animista", ou seja acreditava na existência de espíritos presentes em toda a parte. O budismo a pouco e pouco foi ocupando o seu lugar de uma forma mais organizada mas sem eliminar por completo a crença anterior. Cada habitação, negócio ou campo de treinos na Tailândia tem a sua própria "casa dos espíritos", pequeno local de culto que se adorna todos os dias com grinaldas de jasmim fresco e com oferendas de comida e bebida.

Paralelamente, o povo Thai acredita nos amuletos da sorte e para o lutador Thai há dois dos quais este nunca se separa. O Mongkon (corôa) e o Kruang Ruang (bracelete). Não se sabe com precisão quando é que estes dois objectos sagrados se tornaram parte integrante do Muay Thai. A opinião geral é de que os mesmos foram introduzidos pelo Príncipe Negro, por volta do século XVI, como um elemento essencial dos rituais de combate.

O Mongkon (ou Mongkol)


O Mongkon é a corôa usada pelos lutadores quando entram no ringue e executam o Wai Kru e Ram Muay. Este é um objecto sagrado que foi benzido, tradicionalmente, em sete mosteiros budistas, pertence ao Mestre e ao campo de treino do lutador. Todos os lutadores de um campo usam o mesmo Mongkon. Este é colocado na cabeça do lutador antes do mesmo se deslocar para o ringue, precedido de uma breve oração, que se acredita que protegerá o lutador de lesões graves e expulsará os espíritos negativos. Por fim, é removido da cabeça do lutador quando este termina o Wai Kru e o Ram Muay. A colocação e remoção do Mongkon é feito, regra geral, pelo treinador do ginásio, pelo pai do lutador, ou alguém bastante próximo do mesmo. O Mongkon é único para cada campo. No passado era possível dizer de que parte da Tailândia era um lutador pela forma com este usava o Mongkon. Se a parte de trás do mesmo estivesse apontada para cima, significava que o mesmo era do norte da Tailândia. Se a parte de trás estivesse apontada para baixo, então o lutador era do sul da Tailândia. Adicionalmente, se a cauda do Mongkon estivesse apenas apontada para trás, então o mesmo era da zona centro da Tailândia. Além disso, tradicionalmente os lutadores não têm permissão para tocar no Mongkon. No entanto, com o passar do tempo as tradições vão-se perdendo e já é comum ver lutadores segurarem o Mongkon. Como peça sagrada, e de acordo com as tradições budistas, o Mongkon é sempre guardado acima da cabeça de todos na sua presença e nunca é suposto que o mesmo toque o chão.

O Kruang Ruang (ou Prajiad)

O Kruang Ruang (anel mágico), ao contrário do Mongkon, é pessoal. Este amuleto sagrado é dado ao lutador antes de este iniciar a sua carreira no campo de treino, durante o seu período de formação espiritual que deve ocorrer por um período de aproximadamente 6 meses num mosteiro. Durante a cerimónia final no mosteiro o amuleto é benzido pelos monges, transformando-se num potente talismã. Obviamente alguns destes formalismos foram-se perdendo ao longo do tempo, contudo outros ainda se mantêm. O Kruang Ruang por vezes é feito à mão por um membro da família do lutador com roupas da mesma, ou então com roupas sagradas de um monge. Outras vezes, não passam de gaze amarrada à parte superior dos braços do lutador. Sendo que este poderá usar o Kruang Ruang em apenas um dos braços, significando que este é o seu braço mais forte. Contudo, em alguns estádios o Kruang Ruang é obrigatório em ambos os braços, como no estádio Lumpinee. Tal como acontece com o Mongkon, acredita-se que este amuleto traz sorte e protege o lutador durante o combate.

O Phuang Malai

O Phuang Malai é um arranjo de flores oferecido a um lutador como forma de amuleto e desejo de boa sorte. Estas flores, normalmente Jasmim, são "amarradas" umas às outras e formam uma espécie de cordão suficientemente grande para que o lutador o possa usar à volta do seu pescoço. Na tradição budista, as flores simbolizam a vida, a morte e a volatilidade da existência. O Phuang Malai não é oriundo do Muay Thai, tal como o Mongkon e o Kruang Ruang, este foi incorporado no desporto por influência da cultura tailandesa.

A cerimónia

Protegido pelo Mongkon e pelo Kruang Ruang o lutador entra no ringue, passando sempre por cima das cordas para não quebrar a "aura" do campo de batalha. Existem duas danças, no Muay Thai tradicional, que os atletas executam antes da luta. O Wai Kru (oração dirigida ao treinador) e o Ram Muay (dança propriamente dita). Actualmente, é comum referirem-se a toda a dança como Wai Kru. De facto, quando estas são executadas graciosamente elas fluem de uma para a outra. No passado, os espectadores poderiam dizer qual a origem do lutador observando como é que estes executavam o Wai Kru e Ram Muay. Além disso, visto que os movimentos permitem que o lutador relaxe e liberte a tensão, estas danças servem para relaxar e preparar a mente dos lutadores para a luta.

O Wai Kru e o Ram Muay

O Wai Kru é a primeira parte da dança, durante a qual o lutador irá percorrer o ringue caminhando ao longo do perímetro das cordas, parando em cada um dos cantos para rezar uma pequena oração. O acto de percorrer o ringue tem como simbolismo "selar" o mesmo contra a entrada da má sorte e proteger o lutador durante a sua luta. O lutador dirigir-se-á ao centro do ringue e ajoaelhar-se-á voltado para o seu campo de treino. Aos poucos une as suas luvas à frente da sua cara e começa a inclinar-se enquanto reza pequenas orações budistas.
Fá-lo-á por três vezes, prestando homenagem a três identidades situadas a níveis diferentes. Honra Buda, Sanga (a ordem dos monges) e Dharma (os ensinamentos de Buda). Ao mesmo tempo dá graças ao seu mestre, ao seu campo e aos seus antepassados combatentes. A seguir ao Wai Kru, o lutador começa a executar o Ram Muay, uma lenta série de movimentos estilizados e executados ao ritmo da música que conduzem o lutador na direcção das quatro cordas do ringue em busca de protecção. Esta série de movimentos é própria de cada lutador, ou seja a dança de cada lutador é diferente. Alguns lutadores incorporam movimentos que transmitem de que parte da Tailândia eles são oriundos, outros simplesmente adicionam movimentos pessoais. Em suma, o Ram Muay tornou-se num entertenimento adicional para o espectador do Muay Thai.

A saudação

Durante os rituais de que falamos acima, tanto o lutador como o seu Mestre realizam uma saudação. Saudação esta, comum entre os praticantes da religião budista. Com as mãos juntas à frente do rosto executa-se uma pequena flexão para a frente com a cabeça e tronco. As mãos devem estar posicionadas mais à frente quanto maior for a importância da pessoa que se cumprimenta. Esta saudação realiza-se em todas as ocasiões de encontro, pronunciando-se as palavras "sawadee krap". Sendo que esta saudação tornou-se, para os praticantes de Muay Thai em todo o mundo, um sinal de respeito.

A música

O Muay Thai reveste-se de aspectos particulares, e uma dessas paticulariedades é o facto dos lutadores realizarem as cerimónias antes do combate, de que falamos acima, ao ritmo de uma melodia. Mais lenta para o Ram Muay e Wai Khru, mais rápida para a luta. Esta música é interpretada ao vivo por um grupo de quatro músicos, em que cada um toca um instrumento particular.
• Pi Java (ou Pi Kaek), clarinete. Instrumento fundamental deste grupo.
• Klog Kaek, par de tambores.
• Shing, pequenos "pratos" em ferro ou latão.
• Kong, outro tipo de tambor originário do Sul da Tailândia.

Tal como referido atrás, a música tocada durante o Wai Khru é a melodia Sarama, lenta e melódica. Quando soa a campainha para o primeiro assalto, começa a música Chao Sen. Mais sincopada e tocada em crescente durante os 3 minutos do assalto até alcançar o seu apogeu no final do assalto. Incitando assim, de igual forma, os lutadores a acelerarem o ritmo da luta.

fonte: Knockout Spirit